28.11.05

AMANHÃ EU DIGO QUE TELEFONASTE

Teresa acordou com uma ligeira dor no pescoço.
Naquele momento não deu muita importância. Tinha que ir acordar a Aninha e arranjá-la.
António preparava o pequeno-almoço para a família.
Foi ao ensaboar-se que a dor deu novamente sinal de si. Com a ponta dos dedos Teresa tocou o pescoço e de imediato a dor fez-se sentir. Tentou perceber o que era aquilo. Procurou a forma que sentira. Um ligeiro alto sob a pele indicava um inchaço na zona dos gânglios. Limpou-se e olhou o pescoço ao espelho. De novo tentou sentir e perceber aquele inchaço. Logo que os dedos tocaram aquela forma arredondada sob a pele, a dor fez-se sentir.
Teresa começou a ficar preocupada. Embora a dor fosse suportável, aquela impressão de que algo crescia em si, tinha um mau prenuncio. O medo começou a instalar-se na sua cabeça, que raio seria aquilo? Decidiu telefonar à sua amiga Isabel para se esclarecer sobre aquilo.
Tomou o pequeno-almoço rápido, e pegou na mochila de Aninha. Já estava atrasada para o emprego e ainda tinha de deixar a filha no infantário.
António já tinha saído. Era ele, o primeiro a sair de casa.
No emprego, Teresa deu algumas instruções à secretária e fechou-se no gabinete.
Passou de novo os dedos pelo pescoço e a dor lá estava juntamente com aquela sensação de inchaço.
Marcou o número de Isabel. O telefone chamou durante algum tempo, até que a ligação foi encaminhada para a caixa de mensagens do telemóvel. Àquela hora Isabel andava pelas enfermarias a ver os doentes. Tinha que ligar mais tarde.
Isabel Cristina era a melhor amiga de Teresa. Conheciam-se desde a infância. Todos os segredos, eram partilhados por ambas. A sua relação de amizade era forte e já tinha sobrevivido a algumas divergências, dificilmente seria abalada.
Durante a manhã, Teresa tentou de novo falar com Isabel mas não conseguiu.
Depois de almoço, Isabel atendeu o telemóvel:
- Olá. Já te ia ligar. Vi à bocado que tinhas telefonado. Então como vais?
- Mal! Tenho um inchaço no pescoço e dói-me. O que achas que isto é?
- Tens um inchaço como? Grande?
- Não. É assim como que um alto que eu sinto ali, e mexendo-lhe dói-me.
- Té, assim pelo telefone não posso fazer nada. Parece-me que o melhor é passares aqui e vemos isso.
- Hoje não me dá muito jeito Isabel.
- Hoje Teresa! Fala a tua médica, tens que me obedecer! (diz Isabel a rir-se). Não te preocupes muito com isso de qualquer forma gostava de ver isso hoje. É rápido. Vens ter comigo aqui ao hospital e vemos isso.
- Está bem. Pode ser pelo fim da tarde?
- Sim, pode.
- Ok. Vou ligar ao António para ir ele buscar a Aninha. Até logo então.
- Até logo.
A partir daquela consulta tudo se precipitou.
A ecografia mostrava um pequeno tumor que tinha que ser retirado para análise!
Naquela manhã Teresa sentiu o mundo a cair em cima de si. E se for maligno? Uma lágrima desceu pelo seu rosto, enquanto os seus pensamentos, corriam na direcção da filha pequena de 3 anos. Que seria da Aninha?
Caminhou para o estacionamento e sentou-se no carro.
E se aquilo viesse agora destruir a sua vida e da sua família? As lágrimas, rolaram soltas pelo rosto. Teresa nada fazia para as parar. Deixou-se ficar ali, enquanto a vida ia passando à sua frente.
- Tá Zé, sou eu, a Té.
- Olá.
- Podes vir tomar um café comigo?
- Claro. Mas que tens? Tás a chorar? Que aconteceu?
- Depois falamos. Vais ter à livraria?
- Ok. Vou desligar os equipamentos e vou já para lá. Até já.
- Tá. Até já.
Zé Carlos deixou o trabalho que estava a fazer; desligou tudo e saiu do atelier.
Era fotógrafo de moda.
Para Teresa estava sempre disponível. Tinham sido namorados por algum tempo.
Costumavam encontrar-se no bar de uma livraria num Centro Comercial. Era discreto.
Só Isabel tinha conhecimento destes encontros.
Quando Zé chegou, Teresa já estava sentada numa mesa num dos cantos do bar.
- Olá. (Zé deu um beijo muito discreto em Teresa).
- Olá. Como vais?
- Vou bem. Mas que se passa? Estiveste a chorar? Tens os olhos vermelhos…
- Estou doente. Tenho que ser operada!
- Mas o que é que se está a passar? Que é que tens?
- Tenho um problema no pescoço.
- Sim, mas…
- É um tumor.
- Mas tens a certeza?
- Sim. Já fiz uma ecografia. E o resultado é esse.
- Não me disseste nada! Quando foi que isso apareceu?
- Foi à 3 semanas. Começou com uma dor no pescoço.
- Oh Té!
- Fui saber os resultados á bocado, quando te liguei.
- Porque não disseste nada antes?
- Não te quis incomodar com isto. Mas agora estou assustada. Que vai ser da Aninha?
- Ora, não vai ser nada! A mãe dela vai cuidar dela como de costume, não é?
- Não sei. Estou com tanto medo. A Isabel diz que isto não é nada de especial, mas não sei…
- Então? Se a Isabel diz que não é nada, é porque não é nada! Achas que ela te ia estar a mentir? Ora, não penses nisso.
- Não sei. Não sei em que acreditar. Tudo isto foi tão de repente.
Só penso nela. É tão pequenina…
- Tás com os olhitos muito brilhantes. Vamos sair daqui?
- Sim, é melhor. Não quero que olhem para mim!
- Anda vamos passear. Vamos ver livros.
- Não me apetece. Prefiro sair daqui. Onde tens o carro?
- Está lá em baixo, próximo do teu.
- Tenho medo que isto comece a crescer; a ficar com ramificações como uma árvore; Zé. Tenho medo que isto se esteja a espalhar. Quem vai cuidar da Aninha? Se ela ao menos já fosse maiorzinha…
- Isso não é nada vais ver. Não estejas a pensar isso. Já te disse que não te safas das discussões matinais com ela.
- Ainda hoje, por causa da roupa (Teresa sorri)!
- Hoje, e amanhã, e depois e ainda depois… Se pensas que te safas da tua péstinha pequena, esquece. Vais ter que a aturar. E ainda não chegou aos 14. Que aí sim. Aí é que me vou rir, muito a ouvir as tuas histórias com ela. Quando aparecerem os namorados…
- Era! Eu digo-lhe os namorados, a ela e a ti! Vocês os dois… (riem-se os dois).
- Em princípio, daqui por 2 semanas sou operada. A Isabel vai falar com um colega, para despachar isto.
- Óptimo. Quanto mais cedo melhor. Mas por favor, não deixes os maus pensamentos tomarem conta de ti.
- Vou tentar.
- Não, não! Não vais tentar! Não os vais deixar andar por aí, a dar-te cabo da cabecita.
- Tá bem eu não deixo. Mas tenho muito medo!
- Eu sei. Mas isso não vai ser nada. Tu vais ver!
- Espero que sim. Fazes me falta…
- Estou aqui. Tu sabes que eu estou sempre por aqui…
- Tenho de ir…
- Tás melhor?
- Sim. Obrigado. Gosto muito de ti…
- Eu também!
- Depois ligo-te.
- Sempre que quiseres.
As duas semanas passaram lentamente.
Teresa cada dia ficava mais assustada com aquela operação que lhe podia destruir a família e roubar a Aninha.
Todos os momentos eram poucos para estar com a filha. Até as discussões matinais, por causa da roupa, deixaram de ser importantes. Importante, era vê-la feliz por ter vestido a roupa que queria!
- Isabel?
- Sim. Quem fala.
- É o Zé Carlos. Desculpa estar a ligar mas queria saber como está a Teresa.
- Não tem problema Zé Carlos. Ela está bem. Correu tudo bem e não há problema com o tumor. Já foi analisado e não é maligno. Tá tudo bem. Podes ficar descansado.
- Mas correu mesmo tudo bem?
- Sim. Podes estar descansado.
- Quando vai sair?
- Ela foi à bocadinho para o recobro. Em princípio vai estar aqui mais um dia ou dois, mas está tudo bem.
- Fico mais descansado.
- Não te preocupes que está tudo bem. Olha, tenho que desligar que vem aí o António. Amanhã eu digo que telefonaste!

Esta história foi ficcionada para a mãe da Aninha!

Toda e qualquer semelhança com a realidade, é pura coincidência!
Lamento! Nem tudo que reluz é ouro!!!

Lobo

26 Nov 05

1 Comments:

At 1:23 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Realidade ou ficção? Esta história faz-me lembrar alguém de quem eu gosto muito, (e tu também). Tudo vai correr bem.

 

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