14.2.06

Venham comigo! Eu sou o Comandante do navio!




Na beira do cais eu olhava o enorme navio!
Era muito alto, muito grande. Todo em ferro!
Nunca tinha visto nenhum. Era a primeira vez!
O meu Pai explicou-me aquelas coisas todas que estavam ao alcance do olhar.
- Não se pode ver por dentro, pois não? Perguntei eu!
- Não. Por dentro não podemos. Responderam os meus Pais.
- Podem sim! Disse uma voz mesmo junto a nós.
- Venham comigo! Eu sou o Comandante do navio!
Eu não cabia em mim de contente!
Mostraram-nos todos os cantos, daquele enorme cargueiro. A parte que mais gostei foi do motor. Era uma máquina muito grande! Para chegar à beira dele, foi preciso descer umas escadas muito estreitinhas, todas em ferro.
Aquele sítio, era muito barulhento e fazia muito calor, ali em baixo. Mas lá estava ele – o motor! Enorme, muito alto. Para se ver bem lá para cima, era preciso deitar a cabeça muito para trás!
Quando saímos já era quase hora de almoço.
Eu tinha seis anos e tinha estado dentro dum navio! Durante muitos anos lembrei-me daquela manhã de Domingo, e do nome do barco!
Dos meus Pais, lembro-me todos os dias!

Lobo
11 Fev 06
23.16

12.2.06

A Morte Andava Ali

Eram 7.30 no Azul da manhã.
Ela esperava o ônibus
Como sempre fazia,
Sempre àquela hora.
Desta vez era diferente…
Ia ser diferente, estava escrito!
A morte andava por ali
E queria colher alguém!
Faz parte da vida,
A morte aparecer de repente,
Sem aviso, sem preparação.
Aparece assim… De surpresa!
A alta velocidade
Ela foi chegando,
Enlouquecida foi correndo
Levando tudo à sua frente
Projectando, rasgando carnes
Provocando gritos, dor, morte!
A minha amiga estava lá
Ela esperava o ônibus
Como sempre fazia.
Ia trabalhar. Já não foi!
As dores eram muitas
As lágrimas corriam-lhe
Pelo rosto em catadupa
A perna fora esmagada!
O carro não parou.
Na sua corrida
A Morte estava louca.
Foi colhendo, tudo e todos!
Para fazer a sua colheita!
Por fim, sossegou.
A minha amiga, estava viva.
Felizmente!

(Publicado com autorização da Gabi. Obrigado)

Lobo
10 Fev 06
15.10

8.2.06

Pouco Restou!


É de tarde.
Ainda é de tarde,
Não por muito tempo.
Daqui a pouco o Sol vai partir,
Vai para o outro lado do Mar!
Por cá, vamos ficando
Mais uma vez,
Mais um dia,
Mais um tempo!
Dos sonhos
Das tardes com fim,
Pouco restou.
O Sol foi desaparecendo!
Serenamente
O escuro foi chegando
Com o vento norte.
Do norte perdido
Do desespero, da existência,
Nas ruas da minha cidade
Na noite escura do tempo!

Lobo
07 Fev 06
23.50

1.2.06

Apagaram-se as luzes!

O meu filme vai ser exibido. Está na hora. Já devem ter apagado as luzes! Daqui a pouco termina tal como começou. A música que o abre é a mesma que o encerra. Depois, as luzes vão-se acender e o julgamento será feito. O público o dirá .
Eu não vou lá estar. Tal como não estava, no dia em que partiste. O resta-me a tua doce memória. O teu olhar malandro, a tua vontade de viver. A doença foi-te levando. Aos pouquinhos de cada vez. Eu não estava lá. Não podia estar.
Sempre foste inteligente. Sempre soubeste que a tua hora, um dia ia chegar. Deste-lhe a volta. Apanhaste-a distraída e ainda tiveste tempo para me convidar para jantar. Nesse dia brincamos pela última vez. Depois… depois o fim foi chegando. Serenamente foi tomando conta de ti. Começou o abraço que te iria levar para sempre como diz a minha amiga.
Ainda nos vimos uma derradeira e última vez. Sabias que era eu que estava junto a ti. Deste-me um sorriso, com as forças que ainda te restavam e dormiste um pouquinho. Foste partindo. Eu fiquei ali. Sentei-me no chão junto da tua cama e fiz-te uma última festa. Dei-te o último “bafinho” como tu tanto gostavas, e saí. Saí devagarinho. Não fossem os meus passos perturbar o teu sono de viagem.
O tempo foi passando e hoje tenho a tua memória. O teu sorriso, o teu adeus.
Hoje, encerro os olhos com linhas de dor, para as lágrimas não saltarem que as luzes vão-se acender. O meu filme terminou. Não sei se terão gostado. Pelo menos foi feito com a amor. Para ti.

Este texto é escrito em memória do meu amigo Tomás, que à três anos atrás, partiu para sempre.
Descansa em Paz meu Menino, meu Lindo!

Lobo
01 Fev 2006