15.1.06

Silêncios...

Com o tempo
Fomos ficando distantes.
As palavras perderam o sentido
Deixaram de ser usadas!
Para quê…
O olhar perdeu a ternura.
Passou a ser uma recordação
De um tempo distante
Sem palavras.
Quando falávamos sem dizer.
Bastava-nos o olhar!
O mundo tinha sentido
O gosto era presente,
E as tuas mãos veludo!
Os sonhos foram amadurecendo
Com o tempo e os ventos.
As palavras perderam-se
Nas tardes quentes de Setembro
Quando a luz colhe,
As promessas fecundas de amor.
Procurei o teu olhar…
Dos teus lábios de seda
Saiu um adeus silencioso
Em memória de um gosto
Que foi ficando distante…
As portas foram-se fechando
Na ternura distante do tempo.
Os silêncios diziam amarguras
Quando nos olhávamos.
As mãos ficaram distantes e pesadas
Os lábios perderam o norte
Procurando novos caminhos
Novos amores!
Com o tempo,
Fomos ficando distantes!

Lobo
15 Jan 06
23.30

9.1.06

NO RIO, JUNTO AO MAR!



Era uma tarde fria de Maio. Carlos e Isabel, sentados no carro, olhavam o rio que desfilava na sua frente as águas de longas viagens, por margens e pontes, ao encontro do mar. Estava quase. A foz do rio era mesmo ali. Tornava-se difícil dizer onde começavam um e terminavam o outro. Era como dois corpos que se fundem num só!
- Como te sentes? Perguntou Carlos.
- Apetece-te sair? Podemos caminhar à beira rio e vamos conversando.
- Não prefiro ficar aqui sentada! Respondeu Isabel.
- Está bem; como te apetecer. Mas como te sentes? Perguntou Carlos de novo.
- Não sei exactamente; é como uma dor que cada vez mais, se vai fechando dentro de mim.
- Se preferires, não falamos disto agora.
- Não, não tem importância. A minha decisão já está tomada! Respondeu Isabel.
- Por muito que queira não posso ter este filho!
- Dói-me muito, custa-me muito, mas não o posso ter!
- Mas é definitiva a tua decisão? Perguntou Carlos
- Sabes que podes contar comigo e com a Teresa para o que for preciso. Nós ajudamos-te a criar o teu filho!
- Eu sei. A minha prima já me tinha dito isso ontem.
- Mas a minha decisão está tomada! Disse Isabel.

António Pedro conheceu Isabel, quando ela foi sua aluna na faculdade. Viviam-se os tempos da revolução e da liberdade. Era tempo de ser. Todos queriam marcar o seu lugar na existência. Ninguém queria ficar parado, a ver a vida passar!
Isabel tinha feito 19 anos à pouco tempo. Com a entrada na faculdade iniciava a descoberta de uma nova vida e uma nova cidade. Pela primeira vez ia viver fora da casa dos pais.
Os seus cabelos louros como trigo, contrastavam com os olhos negros. O seu corpo ondulava ao ritmo do seu caminhar. Não era difícil aos homens pararem, para a admirarem. Era uma mulher muito bonita!
Isabel estava no primeiro ano do curso, juntamente com a sua prima Teresa, que deixara a faculdade de Medicina.
António Pedro era advogado. Partilhava um escritório com outro colega e leccionava uma cadeira de Direito na faculdade. Era um homem que transportava a áurea de revolucionário. Fora preso pela polícia politica do regime salazarista.
O “ar” desprotegido de António Pedro, inspirava as mulheres…
As primeiras trocas de olhares, entre o professor e Isabel, aconteceram numa das aulas. Depois dessas, muitas outras se seguiram.
O primeiro convite, aconteceu depois de uma assembleia de escola. Alguns professores iam jantar num restaurante próximo, e convidaram alguns alunos que se tinham destacado na assembleia, pelas suas intervenções. Isabel e Teresa estavam nesse grupo.
Foram quatro anos de encontros discretos! Isabel já não era aluna de António Pedro, mas este era casado, e continuava a ser professor na Faculdade.
A relação foi crescendo, nos limites do segredo, partilhado com Teresa.
Isabel foi-se especializando na arte da espera. Não reivindicava; esperava! Esperava a disponibilidade de António Pedro; as tardes de amor, na casa emprestada por um amigo.
O casamento de António Pedro, periodicamente passava por pequenas crises. Por vezes, algumas eram mais fortes. Nessas alturas, ficava fora de casa por uns dias. Uma das vezes, foi mais de um mês. Isabel e António Pedro, viajaram para o Algarve. Passaram duas semanas de férias, numa casa alugada, junto ao mar!
Os anos foram passando. Isabel instalou-se definitivamente no Porto. Era mais fácil. Ficava mais perto das disponibilidades de António.
António deixou de dar aulas na faculdade. Antes teve um pequeno romance com uma colega professora. Coisa sem importância.
No seu casamento tinha nascido o primeiro filho!
Do revolucionário de esquerda, já só restava a áurea de combatente, e a namorada, das assembleias de Faculdade.
Isabel e as visitas ao fim da tarde começaram a ficar para trás. As tardes de amor foram desaparecendo!
A adesão ao partido do governo, aconteceu “naturalmente” depois do convite, que lhe foi formulado por um antigo primeiro-ministro. No ano seguinte, foi eleito deputado e mudou-se para Lisboa.
Durante algum tempo, António Pedro ainda veio ao Porto a pretexto de resolver assuntos relacionados com casa de habitação e o escritório de advogado.
Com a notoriedade ganha na politica, era cada vez mais difícil jantar com Isabel. António Pedro era uma figura pública!.
Numa das vindas ao Porto, aconteceu Isabel engravidar. Não que ela não o desejasse. Mas daquela maneira, não. O seu sonho era ficar com António Pedro. Sempre fora! Sempre estivera para acontecer, e sempre fora adiado. Isabel queria um filho com um pai presente e não de momentos! Não era isso, que ela queria para o filho. Sabia muito bem o que era uma vida feita de momentos, de bocados de amor!

- Já fizeste marcação na clínica? Perguntou Carlos.
- Sim já tratei de tudo!
- Tens mesmo a certeza que é isso que queres? Eu e a Teresa estamos do teu lado. Sabes isso não sabes?
- Sim eu sei! Respondeu Isabel
As lágrimas corriam-lhe agora pelo rosto. Isabel chorava baixinho, enquanto as águas desfilavam na sua frente levando tudo para o mar!
Carlos segurou a mão de Isabel com ternura.
Às nove da manhã, Carlos parou o carro e tocou à campainha. Teresa e Isabel desceram.
Rumaram à auto-estrada. Aqueles cinquenta e dois quilómetros foram feitos em silêncio!
Carlos parou à porta da clínica. Teresa e Isabel saíram.
- Vens? Perguntou Teresa.
Carlos preferiu ficar à espera no carro. Aquilo mexia-lhe de uma forma particular. Era amigo de Isabel e ver o seu sofrimento custava-lhe.
Teresa e Isabel eram as suas melhores amigas. Não havia dia nenhum que não estivesse com as “priminhas” como gostava de lhes chamar.
Tinha conhecido Isabel através de Teresa. A capacidade que os dois tinham, para fazerem humor, com tudo e com todos foi os aproximando. Em alguns momentos o gosto entre os dois, foi uma realidade não assumida.
Carlos desfiava pensamentos carregados de “ses”. Dentro da clínica, a sua amiga, encerrava dolorosamente, um capítulo penoso, da sua vida.
A viagem de regresso, foi feita em silêncio. Os quilómetros foram passando devagar. Isabel estava “bem” e ainda debaixo dos efeitos da anestesia.
Naquela manhã de Maio, António Pedro desapareceu da vida de Isabel, juntamente com o filho.
Isabel, foi reconstruindo o tempo com os pedaços de vida que sobraram. Lentamente, foi aprendendo a superar algumas dependências.
Algum tempo depois, os olhos foram-se abrindo à vida. As lágrimas tinham secado, e as dores, estavam guardadas numa caixinha, dentro de um gavetão.
Hoje, vive com um construtor civil, que lhe deu conforto, e um filho. Finalmente, Isabel é mãe!
Carlos e Teresa viveram juntos alguns anos. Hoje estão amigavelmente separados. Por vezes falam ao telefone.
Rejeitando as directivas do partido, o deputado António Pedro, votou favoravelmente a proposta de Lei, sobre a Interrupção Voluntária da Gravidez!

Lobo
08-01-06
16.30

4.1.06

Inicio de Ano

Quatro dias depois, posso dizer que para mim 2005 foi um bom ano!
Foi em 2005, que completei 50 anos de existência; Terminei a minha licenciatura em cinema com uma média de que me posso orgulhar; Conheci pessoas novas com quem estou a construir um trajecto; Vi dois filmes meus, serem oficialmente seleccionados para uma Mostra!
Foi também, o ano de fazer uma limpeza na agenda telefónica, e seguir em frente.
2005 foi ainda o culminar de cinco anos de grande coragem pessoal. Sem vaidades, considero que aos 45 anos ter regressado aos bancos da escola e fazer uma licenciatura, foi um acto de coragem.
Por vezes na vida, precisamos de actos que nos mostrem claramente quem somos e até onde somos capazes de ir. É preciso prová-lo primeiramente a nós próprios e depois aos outros também! Foi o que fiz e posso dizer, que foi muito bom!
Se a minha ida à escola servir de exemplo para alguém, ficarei satisfeito. Gostava que alguns familiares, olhassem para mim e vissem um exemplo a seguir. Se por acaso isso acontecer, será uma grande satisfação! De algum modo é uma forma de dizer “Nunca é tarde, para a frente é que é o caminho”!
No campo profissional, fiz alguns trabalhos que considero interessantes. Foi agradável saber que um filme feito por mim, fez sucesso junto dos participantes de uma conferência sobre, a Integração de Pessoas com Deficiência.
Neste novo ano, espero atingir algumas metas, quer no campo profissional quer no campo pessoal.
Para já, tenho uma curta-metragem em apreciação, numa empresa Produtora e um outro projecto, em fase de maturação, para um documentário. No dia 2 recebi um convite de colaboração de uma empresa da área do Audiovisual. Foi um bom começo!
No campo profissional, a empresa onde trabalho vai comemorar os seus 25 anos. Também aqui terei que fazer um documentário, sobre o trajecto da Instituição ao longo deste tempo. Vai ser um desafio interessante. Numa dimensão mais pessoal, acho chegada a altura de reorganizar a minha vida. Ainda não fiz qualquer plano para este projecto. Acho que se for partilhado, terá mais interesse. Vamos ver o que a vida reserva em termos de "parcerias".
De uma coisa tenho a certeza – Vou continuar a fazer o meu trajecto com toda a dignidade!
Todos aqueles que quiserem fazer esta caminhada comigo, são bem recebidos!
Um bom ano a todos!

4 Jan 06
Lobo