30.6.06

O tempo era o tempo



As águas abriram-se…
Ela saiu lá de dentro,
Em contas e colares
Com cabelos de Iemanjá,
Num sonho de verão.
Tinha no sorriso
A estrela da manhã.
No porto marinheiro
Os olhares das partidas...
O sorriso do regresso,
Pela noite dentro
Nos nossos lençóis.
A luz rasgava o dia
O tempo era o tempo.
Ao chamado de Iemanjá
Ela olhou mais uma vez…
E partiu nas ondas do mar
Com flores na saia branca!

Lobo
30 Junho 06

26.6.06

Olho o momento



Inverno. Domingo de tarde. Dia de temporal. Mar bravo.
As ondas vinham. Corriam para a praia. Água cavalgando água. Com força. Com velocidade. O som é próprio. É característico. Milhões de litros de água, mexendo furiosamente. Na praia. Assiste-se. Olha-se. O momento da rebentação. Os salpicos no ar, viajando no vento.
Olho. Olho sempre. Com fascínio. O blusão de couro protege a Máquina Fotográfica.
Mais uma. Lá vem mais uma. Das grandes. Leva tudo á frente. Recua. Regressa com tudo atrás de si. Já vem outra. Eu caminho. Quero ficar mais perto. Um bocadinho mais.
Sinto o salitre na cara. Está vento. Muito vento. Vento forte. Vento de Norte.
Avanço mais. Quero ir mais perto. Calculo o risco. Outra. Lindo. Olho o momento. Toda aquela água no ar. Milhões de partículas. Lindo. Quero ir mais perto. Tenho que ir mais perto. Vem aí outra. A areia vai sendo escavada. Insegura. Mole. Avanço. Calculo o momento. Olho a distância. Continuo a andar. Estou perto. Cada vez mais perto. O som aumentou. É mais forte. Muito mais forte. Muito mais perto. Continuo. Preciso de mais uns metros. Começo a enquadrar. Mentalmente faço o quadro. Olho. Procuro a tal. A Grande. A que vai estourar forte. Agua. Muita agua no ar. Avanço. Tiro a Máquina. Mais uns passos. Espero. É agora. Aí vem. Disparo. Corro. Corro muito. Não olho sequer. Não dá tempo. Corro mais e mais. Ela quer. Ela quer-me vir buscar. Quer-me para ela. Quer que eu vá com ela. Espreito pelo canto do olho. Tá mais perto. Muito mais perto. Corro sempre. Fica cansada. Corro. Corro ainda e espreito de novo. Ela parou. Não teve mais forças. Foi-se embora!

Lobo
26 Junho 06
10.15

21.6.06

Numa estrada já fechada



Há uma carta
Com noticias
De uma porta aberta
Na janela...
Nessa carta falas tu
Como se eu estivesse nela.
E no olhar fechado
Parto e riu
Corro mundo,
Como um sonho acordado
Olho a porta dessa casa...
Num querer apaixonado.
Na noticia
Em que morri
Com olhar ressuscitado
Olhava para ti
Ao ver-me a teu lado.
E na porta entreaberta
A janela da saudade
Deixava passar por ela
Alguma luz
Alguma claridade.
Regresso agora,
Numa estrada já fechada.
Olho o tempo
Num abraço
Com a porta ainda ferrada.
E olhar-te na janela
Com os olhos com a vida
É olhar essa chegada,
Já curado dessa ferida
À espera da madrugada!

Lobo
21 Junho 06
10.30

18.6.06

Escrevo…



Escrevo para ti
Escrevo com a alma
Escrevo com a paixão
Escrevo o teu corpo nu
Escrevo a tua imagem
Escrevo 0 teu olhar
Escrevo o teu Amor
Escrevo para a mulher,
Que me apaixona
Que procuro na noite
Que desejo
Que beijo
Que Adoro
Que Amo
Que se chama...

Lobo
13 Jun 06
20.50

7.6.06

O gostar foi chegando



Devagarinho…
O gostar foi chegando.
Tornou-se a luz do dia
Tomou conta de mim,
Do meu olhar…
Do meu sentir…
O meu dia nasceu em direcção a ti.
Já não existo sem essa luz,
Sem o teu sorrir
Sem o teu existir
Sem essa tua luz,
Que enche o meu dia de Sol
Que me toma a vontade,
E me faz correr para ti
Mais e mais
E ainda mais ainda…
De tanto querer
De tanto gostar
Deste amor tão forte,
Tão grande
Tão longe…
À procura de ti
Do teu chegar
Do teu dizer estou aqui
Para ficar.
Para ser
A luz dos teus dias!

Lobo

7 Junho 06
18.50

5.6.06

Eu Parti… Faz Tempo!



Um dia conseguirás,
Entender a humilhação
De ser a outra.
Do meu não prazer
Quando entras em mim.
Um dia conseguirás
Olhar os carinhos
Do meu gostar.
Quando de mim partes
Depois de vir
E retornar
E partir
E voltar de novo aqui.
Um dia conseguirás
Perceber a dor
Da tua ausência,
Nas portas fechadas
Ao mundo à vida.
Nesta espera constante
Quando não sei se vens
Para partir e voltar
De mim...
Um dia conseguirás
Finalmente entender
O quanto gostei de ti.
Olhar o tempo...
Saborear a solidão,
Os dias tristes.
Eu parti...
Faz tempo!

Lobo
5 Jun 06

13.40

Apetecia-me escrever…



Queria palavras que fotografassem o meu estado de espírito neste momento.
Um enorme turbilhão anda por aqui. Muito sentimento, muita emoção…
Neste momento de códigos e significados profundos, em que as chaves de encriptação tem dono, a memória deu uma pequena ajuda na resolução do problema.
Corria o ano de 1973 e estava em S. Martinho do Campo – Vila Real de Trás-os-Montes. Não recordo já se a altura do ano era esta…
Foi aqui que tomei conhecimento com a música “A Noite Passada” da autoria de Sérgio Godinho.
Desde essa vez, ficou na minha memória. Marcou o momento vivido então.
Era feliz. O sol nascia todas as manhãs!
Assim, apeteceu-me trazê-la de novo para a luz do dia, passados estes anos. De facto ela retrata de novo o momento, como se parcialmente a história se repetisse!


A Noite Passada

A noite passada acordei com o teu beijo
Descias o douro e eu fui esperar-te ao Tejo
Vinhas numa barca que não vi passar
Corri pela margem até à beira do mar
Até que te vi num castelo de areia
Cantavas “sou gaivota e fui sereia”
Ri-me de ti “então porque não voas?”
E então tu olhaste depois sorriste
Abriste a janela e voaste!

A noite passada fui passear no mar
A viola irmã cuidou de me arrastar
Chegado ao mar alto abriu-se em dois o mundo
Olhei para baixo dormias lá no fundo
Faltou-me o pé senti que me afundava
Por entre as algas teu cabelo boiava
A lua cheia escureceu nas águas
E então falamos
E então dissemos
Aqui vivemos muitos anos!

A noite passada um paredão ruiu
Pela fresta aberta o meu peito fugiu
Estavas do outro lado a tricotar janelas
Vias-me em segredo ao debruçar-te nelas
Cheguei-me a ti e disse baixinho “olá”
Toquei-te no ombro e a marca ficou lá
O sol inteiro caiu entre os montes
E então tu olhaste
Depois sorriste
Disseste “ ainda bem que voltaste”!
Sérgio Godinho


Lobo
4 Junho06
23.00